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Combinação de musculação e atividade aeróbia reduz os efeitos da quimioterapia e eleva a qualidade de vida das pacientes
Não são poucas as técnicas alternativas e tratamentos paliativos que buscam, de alguma forma, aliviar a dor e os efeitos colaterais da quimioterapia em pacientes com câncer. As opções, porém, nem sempre dependem exclusivamente do avanço da medicina.
A combinação de exercícios aeróbios e musculação – chamada por alguns especialistas de oncofitness – pode elever a qualidade de vida e ajudar a superar o coquetel de sentimentos que a doença provoca, especialmente em mulheres com câncer de mama.
Segundo Alexandre Evangelista, professor de educação física e instrutor de oncofitness do Hospital A.C Camargo, em São Paulo, a atividade física regular é capaz de reduzir em 20% os efeitos da quimioterapia.
Atividade física regular é capaz de reduzir os efeitos da quimioterapia
Na visão do personal, além de controlar a náusea e aliviar as dores crônicas, o exercício tem um resultado psicológico extremamente positivo.
“O câncer de mama, hoje, é altamente curável. O processo exige tratamentos, mas a maior dificuldade das mulheres é lidar com a mastectomia e com os danos à saúde mental provocados pela retirada da mama.”
Perder a imagem corporal é conseqüência imediata e quase inevitável para a maioria das pacientes. Raiva, depressão e desânimo são sintomas recorrentes. Dentro deste cenário, o papel da musculação e do exercício aeróbio é resgatar a autoestima e o humor.
Durante o treino, explica o educador, o organismo libera beta endorfinas, enzimas que provocam a sensação de bem-estar, e citocina,substância que ajuda a combater processos inflamatórios. “São essas reações fisiológicas do corpo, estimuladas pelo exercício, que contribuem para a qualidade de vida dos pacientes e melhoram a forma como eles encaram a doença.”
O exercício aeróbio, revela o instrutor, além de estimular a perda de calorias e ajudar no controle de peso, fundamental no tratamento da doença, oferece equilibrio psicológico durante o processo. “Reduz a ansiedade e trabalha o sentimento de raiva em relação ao problema.”
Em média, a modalidade estimula uma perda de 10 calorias por minuto, três a mais do que é possível conseguir através da musculação. “Engana-se quem pensa que atividade resistida não tem gasto calórico. A diferença é que trocamos sete calorias por massa muscular, um ganho extremamente positivo para o organismo.”
Alexandre Evangelista pontua que a quimioterapia tende a provocar um défict de massa óssea e muscular. O trabalho com carga e peso é, na visão do professor, preventivo. “A musculação diminui o risco de fraturas por queda, melhora o equilíbrio e a força, o que se reflete diretamente na qualidade de vida dos pacientes.”
Condicionamento ou oncofitness?
Embora não faça o uso do termo oncofitness, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), tem, há um ano, um trabalho bem similar de condicionamento físico dos pacientes. Para Christina Brito, fisiatra da Instituição, o exercício melhora o sono, o humor e tem um impacto muito grande na qualidade de vida.
O diagnóstico de câncer provoca, na maioria dos casos, uma postura mais passiva, protetora nos pacientes, de cuidados muitas vezes excessivos, revela a médica. A função do treino é retirá-los na inatividade e combater a fadiga, pois os sintomas depressivos são prejudiciais ao quadro.
“Os resultados são expressivos em mulheres com câncer de mama. Elas desenvolvem um potencial que não sabiam que tinham, ficam mais ativas, menos dependentes, mais confiantes e seguras.”
De acordo com a especialista, há estudos americanos que relacionam a prática de exercícios com a queda na taxa de mortalidade da doença feminina. “Ainda não sabemos as causas diretas, mas alguns trabalhos mostram que a mortalidade do câncer em mulheres com atividade física regular é mais baixa.”
No Icesp, o acompanhamento é feito em três sessões semanais, durante três meses. Os cuidados são maiores nas pacientes com linfoedema (acúmulo de líquido linfático nos tecidos, mas comum nos braços). Nesses casos, a carga deve ser mais baixa e a evolução, gradual. O trabalho também tem o objetivo educativo. A idéia é que os pacientes possam, após esse período, desenvolver os treinos sozinhos, em casa ou academias.
Limites
Ricardo Marques, oncologista do hospital Sírio Libanês, examina com cautela a recomendação. Na avaliação do médico, o exercício tem muito resultado em mulheres jovens, que enfrentam um processo de quimioterapia leve.
“É preciso ter muito cuidado ao generalizar. Em pacientes com outros problemas de saúde como obesidade, diabetes e hipertensão, ou em sessões mais intensas de tratamento pode ser prejudicial. A recomendação depende de idade, perfil, e tipo de tratamento”, endossa.
O especialista, entretanto, defende o potencial do condicionamento físico após a terapia. Segundo ele, a obesidade provoca o acúmulo de substâncias parentes da insulina no organismo, responsáveis por estimular o receptor nas células de câncer de mama.
“Atividade física depois do câncer reduz a presença dessas substâncias, diminuindo, assim, o estímulo sobre a célula tumoral. O resultado é objetivo: a chance de desenvolver um novo tumor tende a ser menor.”
Por Lívia Machado, para iG São Paulo
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