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Como é feito o autotransplante de medula óssea?

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O autotransplante de medula óssea, um recurso terapêutico usado para tratar alguns tipos de câncer, ganhou ampla divulgação com a notícia de que o ator Reynaldo Gianecchini, que luta contra um linfoma não-Hodgkin – um tipo de câncer que afeta os gânglios linfáticos – será submetido ao procedimento.

Para quem está acompanhando a trajetória do ator global e tem dúvidas a respeito do que é e de como é feito esse tratamento, a hematologista Lucia Mariano da Rocha Silla, coordenadora do Programa de Transplante de Medula Óssea do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), esclarece: o autotransplante é um recurso terapêutico que permite ao médico submeter o paciente a doses muito altas de quimioterapia sem destruir para sempre o sistema imune dele.

Sabe-se que o poder de destruição da quimio atinge não só a célula cancerosa, mas também as células que não estão doentes. Essa particularidade dos quimioterápicos faz com que tratar alguns cânceres seja uma tarefa complicada. Então, como fazer para bombardear as células doentes que estão misturadas às células normais no corpo do paciente? O transplante autólogo de medula óssea – é esse o nome dado pelos médicos ao autotransplante – é um dos recursos encontrados pela medicina para enfrentar esse problema.

“Nós guardamos uma quantidade de células-tronco da medula óssea do paciente, submetemos ele a altas doses de quimioterapia e depois recolocamos essas células no corpo dele” explica de forma bem didática a hematologista do HCPA.

Parece fácil? Não é mesmo. O autotransplante de medula óssea é um procedimento delicado e cheio de detalhes. Ele inicia com a preparação prévia do paciente com medicamentos para aumentar a quantidade de células-tronco circulando no sangue.

Quando exames de sangue apontam uma quantia suficiente, a pessoa é conectada a uma máquina que filtra o sangue, separando as células-tronco do restante e devolvendo o sangue para o corpo sem esses componentes, num processo chamado de aférese. As células-tronco são então armazenadas em uma bolsa e congeladas a temperaturas baixíssimas, num outro processo conhecido como criopreservação.

Só depois desse processo o paciente recebe a quimioterapia em doses extremamente altas. Dependendo da doença, do estado do paciente e do protocolo de tratamento usado, os médicos fazem uso da radioterapia junto com os quimioterápicos.

“É uma tentativa de limpar o organismo de células tumorais. O problema é que a dose é tão alta que afeta também a medula óssea” diz o hematologista Marcelo Bellesso, do Grupo de Linfomas Não-Hodgkin do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP).

Sem a medula óssea funcionando, o corpo deixa de produzir plaquetas, as responsáveis pela coagulação sanguínea, glóbulos vermelhos (eles são responsáveis pelo transporte de oxigênio) e glóbulos brancos – as células de defesa do corpo.

“Com isso o paciente pode ter complicações graves, como queda da imunidade , anemia e risco mais alto de hemorragias”.

Depois desse intenso tratamento o paciente recebe de volta as células-tronco que estavam guardadas. Injetadas novamente na corrente sanguínea, elas estimulam a recuperação da medula, que pode voltar a funcionar em até 20 dias.

“Esse período de recuperação da medula exige isolamento do paciente, para evitar que ele pegue alguma infecção, já que está com o sistema imune extremamente frágil” diz a hematologista do HCPA.

É bom esclarecer que nem sempre o autotransplante cura a doença. Às vezes, dizem os especialistas, ele não é a melhor opção de tratamento ou mesmo a mais viável. Tudo vai depender do tipo de linfoma, do estágio em que está a doença e da forma como o paciente reage aos medicamentos que recebe antes que o autotransplante seja considerado como opção de tratamento.

“Existe uma gama enorme de linfomas. Só entre os linfomas não-Hodgkin existem aproximadamente 47 subtipos. São tumores muito heterogêneos entre si. Alguns são de crescimento lento (indolentes), outros de crescimento rápido (agressivos). Nem todos têm indicação de transplante” afirma Bellesse.

Leoleli Camargo, iG São Paulo

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