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Exercício mais sono: proteção contra o câncer

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Atividade física acrescentada ao dia-a-dia é igual a uma menor incidência de tumores. Essa conta parecia manjada no meio científico. No entanto, uma novíssima pesquisa do Instituto Nacional do Câncer, nos Estados Unidos, revela que é indispensável somar boas noites de sono para ela ficar redonda. No estudo, quase 6 mil mulheres foram acompanhadas durante dez anos. Ao final desse período, as que incluíam sessões generosas de atividade física na rotina apresentaram uma probabilidade 25% menor de desenvolver qualquer tipo de câncer. E parecia tudo conforme o esperado, até que um panorama diverso foi verificado nas voluntárias que, mesmo suando a camisa, dormiam menos de sete horas por noite, tempo considerado insuficiente para o organismo se recompor de uma jornada — ainda mais aquela que contempla gastos físicos.

Entre as pessoas que se exercitavam mas não dormiam direito, os pesquisadores constataram um risco até 47% maior de desenvolver um câncer, como se o tiro saísse pela culatra. “Os dados sugerem que o sono tem uma importância ímpar nessa equação”, afirma James McClain, líder do trabalho. A hipótese levantada para explicar a relevância do descanso noturno nessa história toda tem a ver com o envelhecimento celular. “Quem dorme pouco antecipa esse fenômeno. E isso predispõe a inúmeras doenças, entre elas os tumores malignos”, avisa Andrea Bacelar, neurologista da Sociedade Brasileira do Sono. Ou seja, as células de quem não repousa adequadamente à noite perdem sua eficiência rapidamente, abrindo caminho para mutações que podem predispor ao aparecimento de um câncer. O exercício, então, seria outro fator capaz de acelerar esse processo, sem o sono para restaurar o corpo submetido a esforço.

Além de envelhecer nossas células, noites em claro anulam muitos dos efeitos positivos de qualquer atividade física. “Existem evidências de que exercícios bem-feitos estimulam o sistema imunológico e diminuem a incidência de inflamações pelo corpo. Mas poucas horas de sono atuam no sentido contrário, prejudicando as defesas e favorecendo quadros inflamatórios”, argumenta McClain. No final, no mínimo não há vantagens. E que fique claro: um corpo com defesas fragilizadas e refém de constantes processos inflamatórios se torna bastante vulnerável a tumores.

A obesidade também pesa nessa conta — afinal, por incrível que pareça, há uma ligação entre falta de sono e sobrepeso. Em outras palavras, não adianta nada ralar no esporte se isso prejudicar suas horas de descanso. As noites maldormidas destrambelham o organismo a ponto de interferir nos mecanismos que regulam a saciedade. Daí, no dia seguinte, o indivíduo fica com um apetite de leão. Resumo da ópera: ele passa a comer mais, e a circunferência de sua cintura só tende a se expandir por causa, inclusive, de hormônios ligados ao estresse. “O excesso de peso é outro fator de risco para o câncer”, arremata o educador físico Alexandre Lopes Evangelista, vencedor do Prêmio SAÚDE! em 2008. O motivo é simples: as células que armazenam gordura, quando estão empanturradas, passam a produzir substâncias nocivas que contribuem para a gênese da doença.

Por tudo isso, já dá para entender que dormir pelo menos oito horas é o primeiro passo para quem pretende se exercitar. E é melhor que se durma à noite, como faz grande parte da população. Adormecer sob o breu noturno contribui para ajustar os ponteiros do nosso relógio biológico, que é regido pelo ciclo dia-e-noite, o chamado ritmo circadiano. Daí, adormecido no horário em que a natureza manda, nosso corpo produz boas doses de melatonina, o hormônio do sono. “Essa substância é um dos antioxidantes naturais mais poderosos. Além de evitar danos às células, é capaz de mobilizar mecanismos de reparação do DNA, quando ele já sofreu algum prejuízo”, ensina o neurofisiologista José Cipolla Neto, da Universidade de São Paulo.

E, se atividade física sem sono faz mal, será que você imagina o que ajuda a manter nosso ritmo interno como um verdadeiro relógio suíço? A própria atividade física. “Se feita de maneira correta e sem exageros, ela pode ajudar a harmonizar o ritmo circadiano, auxiliando na produção apropriada de melatonina”, afirma o cronobiologista Luiz Menna-Barreto, da USP. A questão é que, se a prática esportiva é muito intensa ou realizada próxima do horário de dormir, o resultado dessa conta será negativo para sua saúde. Mexer o corpo é bom e importante. Mas, na sua agenda de treinos, sempre garanta um espaço para sessões de oito horas com o travesseiro — nem que, no início, você precise de certo treino. Assim, com a ginástica na dose certa e o sono na quantidade exata, o cálculo de risco de câncer terá um resultado baixo, muito baixo.

Por Cesar Kurt, Revista Saúde, Editora Abril, em http://saude.abril.com.br/edicoes/0308/corpo/conteudo_422304.shtml?pag=2

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