Informação não chega e há desconhecimento
A entidade também identificou que o brasileiro não está profundamente familiarizado com o tema câncer. Quatro em cada dez afirmaram ter conhecimento mediano; e 26% afirmaram entender profundamente sobre o assunto.
O levantamento mostrou desinformação em relação a fatores de risco – mais de um em cada quatro brasileiros (27%) dizem não identificar relação entre câncer e sobrepeso, 26% não relacionam o câncer com Doença Sexualmente Transmissível (DST) e 21% acreditam que fumar de vez em quando não aumenta o risco de câncer.
"Não está chegando informação para uma parcela significativa da população", diz Cláudio Ferrari, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica. "Isso é o o que nós identificamos."
Os especialistas explicam que doenças sexualmente transmissíveis, como a hepatite B, podem levar ao câncer de fígado. O mesmo ocorre com o HIV, que aumenta a chance de cânceres do tipo linfoma. Também o HPV, alvo de campanhas de vacinação recentes, aumenta muito a chance de câncer de colo de útero. "No HPV, a relação é quase causal", explica Fernandes.
Sobre a obesidade, eles apontam que a gordura gera fatores de crescimento de tumores, que podem contribuir para o aumento da incidência. A obesidade também deflagra um estado inflamatório crônico que também aumenta a chance de surgimento de células cancerígenas – o câncer de endométrio é um exemplo de condição associada à obesidade.
Em relação ao cigarro, não há uma dose segura para o consumo, apontam. "Não existe a possibilidade de fumar e ter zero dano", diz Fernandes.
"Quando você fuma, você se expõe a 200 substâncias cancerígenas. Claro, que a frequência dessa exposição é importante, mas tem a especificidade de cada indivíduo, não se sabe o quanto pode ser seguro", explica Cláudio Ferrari. "O que se sabe é que 95% dos cânceres de pulmão estão relacionados ao cigarro", completa.
Ter conhecimento não significa agir, pontua o estudo
Os dados também mostram uma disparidade entre conhecimento e prática – como também demonstram que, mesmo o conhecimento prático é falho e superficial, carecendo de informações mais precisas.
Por exemplo, embora 21% afirmem que fumar ocasionalmente não leva ao câncer, 93% disseram que o tabagismo é o principal vilão do câncer.
Ainda, 23% da população desconhece que urinar sangue pode ser um sinal de câncer e 21% desconhece que sangue na urina também é um sinal. "É inacreditável que indivíduos com alto poder aquisitivo passem um ano urinando sangue para procurar um médico. E tem casos assim", diz Fernandes.
A disparidade entre teoria e prática se repete quando o assunto é adoção de exames preventivos. De acordo com o estudo, 80% dos entrevistados afirmaram que deveriam fazer check-ups, mas apenas 49% realmente o fazem. Outro dado que chamou a atenção da entidade é que 24% não fazem nenhum tipo de exame preventivo.
"A primeira pessoa que tem que cuidar de você é você mesmo. E isso é importante que seja dito", diz Gustavo Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
Os brasileiros também supervalorizam o peso da herança genética no surgimento do câncer – índice que foi registrado em 84% dos entrevistados.
Medo da doença, mas há otimismo
O brasileiro também tem medo do câncer, mas esse medo não necessariamente vira ação preventiva: 41% dos entrevistados disseram ter muito medo na doença. Desse grupo, 21% não fazem nenhum tipo de exame preventivo. "Nós vimos que o medo não mobiliza as pessoas. Ele é um mau conselheiro", avalia Ferrari.
Apesar do medo, os brasileiros acreditam na possibilidade de cura – 80% das respostas disseram ser possível vencer a doença. Também 79% relataram acreditar na junção de tratamentos já existentes para superar a condição, enquanto 78% citaram o poder da fé.
O estudo também mostrou que há grande desconfiança do brasileiro em relação à atuação dos governos nos serviços de saúde: 73% relataram que não confiam na atuação do governo.
Fonte: Bem Estar