29/01/2018
Com o aumento da temperatura, muitas pessoas correm pra praia em busca da "cara do Verão”. Para acelerar o processo, preferem não usar o filtro solar, ou aplicam em quantidade menor que a indicada. "Passo o ano inteiro estudando, tô branquela, quero pegar o bronze do ano todo agora”, diz a estudante Júlia Maciel, 17, que vai à praia sem usar filtro.
O atalho para acelerar o bronzeado traz sérios riscos. No Brasil, o câncer de pele não melanoma continua sendo o tumor mais incidente entre adultos. Na Bahia, dos 12.530 casos registrados em 2016, 23% eram câncer de pele. Pesquisa realizada em 2017 pelo Instituto de Cosmetologia e Ciências da Pele mostrou que 70% dos brasileiros não sabem usar o filtro solar corretamente.
"Mesmo as pessoas que frequentam o consultório dermatológico, que têm maior preocupação com a pele, não têm o hábito de usar”, conta a dermatologista Tatiana Gabbi, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Outro dado preocupante é que 72,5% dos brasileiros afirmaram não aplicar o protetor diariamente em 2017 - número maior que em 2016 (65%) e em 2015 (53%). "A proteção solar é a única coisa que realmente faz com que a gente evite o surgimento do câncer e o envelhecimento da pele”, diz.
O horário de pico da radiação UVB, segundo a SBD, é das 10h às 16h. Porém, os efeitos nocivos da luz solar ocorrem o dia todo, mesmo com tempo nublado. Por isso, o uso do filtro deve ser regular. "Tem que criar o hábito de usar, igual a escovar os dentes. É acordar, tomar banho e ter na pia o protetor para usar nas áreas que vão ficar expostas”, sugere a dermatologista especialista em Oncologia Dermatológica Fabiana Palma, do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB).
E quanto passo?
Tatiana dá uma dica para usar a quantidade correta de filtro no dia a dia. "Quando a gente usa hidratante, a gente passa muito mais que o filtro solar, e deveríamos usar quantidades semelhantes. Você tem que colocar uma quantidade generosa, tem que sentir que cobriu tudo e que a camada está espessa”.
E quem acha o protetor caro, pode se proteger economizando. "Quem não tem condição de comprar filtro para usar todos os dias pode usar roupas, as que deixem a pele respirar, além de boné e outros tipos de proteção. Os protetores estão ficando mais baratos também, o ideal é que use o filtro químico junto à proteção mecânica”, recomenda Fabiana Palma.
Cuidados na praia
Para quem vai se expor ao sol por um período mais longo, o cuidado tem que ser ainda maior. "No dia a dia, quando a pessoa tem exposição eventual ao sol, não precisa reaplicar o filtro solar a cada 2h, principalmente se for se molhar ou se transpirar muito”, diz Tatiana Gabbi. "Essa recomendação a gente dá para as pessoas que vão se expor ao sol por longo período, porque a quantidade de sol à qual você estará exposto aumenta o risco”, comenta.
E não adianta economizar na hora de aplicar o filtro. Para a proteção ser adequada, Fabiana Palma sugere passar duas camadas de protetor. "O ideal é cobrir toda a superfície corporal pelo menos 15 minutos antes de se expor ao sol, e depois que a pele absorver o protetor, aplicar novamente”, explica.
Ela ressalta que todo o corpo precisa ser coberto - por isso é importante lembrar de orelhas, ponta de nariz e até plantas dos pés. A servidora pública aposentada Consuelo Guerreiro, 57 anos, não deixa nenhuma área sem proteção, nem mesmo quando vai dirigir.
"Uso luvas nas mãos e no braço que ficam sob o sol. Na juventude, a gente pensa que é imortal. Mas o sol tem um efeito retardado, ele age no seu corpo por anos, até que um dia pode aparecer algo”, diz ela, com propriedade, afinal, em 1996 teve pela primeira vez um melanoma, tipo mais agressivo de câncer de pele.
"Não lembro de ter algum cuidado com a pele nos anos 80. Sempre tomei muito sol. Às vezes usava bronzeador, nunca protetor. Isso contribuiu para que eu pegasse o câncer”, conta ela, que é paciente de melanoma há 22 anos.
"Sou um caso raro de sobrevida longa, porque a estatística da sobrevida após 10 anos da primeira cirurgia é rara”, diz Consuelo. Apesar de mais agressivo, o melanoma é menos frequente do que os outros tumores.
Proteção diária
A servidora pública Ligia Leal, 33, usa protetor diariamente desde os 21 - e chama atenção a pele lisa e sem manchas. "Durante a semana, passo às 7h, antes de pegar ônibus para ir ao trabalho, e passo novamente quando volto, às 17h, no rosto e no colo. E uso sombrinha com proteção UV”, relata ela, que só usa protetor nos braços se for se expor em horários que o sol estiver mais forte.
Ela sempre anda com protetor na bolsa e retoca quando fica ao ar livre. "Teve época que ficava muito exposta ao sol porque trabalhava na rua, aí criei o hábito de me proteger com boné e filtro”, comenta ela, que também usa camisa de manga com proteção UV e só entra na piscina até as 9h.
‘Barreiras físicas’ ajudam a tornar a proteção da pele ainda mais eficiente
A servidora pública Ligia Leal, 33 anos, que usa protetor solar diariamente desde os 21, lança mão de uma verdadeira armadura para fazer atividades ao ar livre. "Quando faço trilha, reaplico o protetor com mais frequência, uso uma blusa de manga comprida com proteção UV e uma bandana com proteção UV para cobrir o rosto, além de luvas, chapéu e óculos de sol”.
A proteção mecânica, como camisas, luvas e chapéus utilizados por Consuelo, é bem- vinda como complemento à proteção assegurada pelo protetor solar. Além do velho conhecido guarda-sol, luvas, chapéus, roupas e até sombrinhas com proteção UV são algumas das novidades no mercado contra os efeitos do sol.
Mas nada de substituir o protetor pelas roupas de proteção UV, porque mesmo sob a sombra da sombrinha, o sol queima.
"Se você está na sombra, você também está recebendo radiação. Mesmo embaixo da barraca, da sombra de uma árvore, tem que usar filtro solar”, alerta a dermatologista Fabiana Palma.
"A gente nunca substitui o filtro tópico. Ele vem sempre antes de colocar a roupa, a maquiagem, e até o pó compacto com proteção solar. O filtro ainda é a forma mais eficiente de se proteger dos efeitos nocivos do sol”, explica.
Ligia diz que não se preocupa em não ter o bronze do Verão, ou de usar muitas proteções físicas para se esconder dos raios UVA. "Hoje minha prioridade é me proteger do sol, porque se exagerar no bronzeamento, a pessoa pode até ficar bonita na hora, mas depois a pele sofre envelhecimento precoce”, analisa.
Os raios UVA, além do bronzeamento gradual, também deixam marcas de envelhecimento na pele. Flacidez, rugas e manchas são três tipos de envelhecimento extrínsecos, ou seja, causados pelo ambiente, e o sol pode provocar os três.
"O sol, associado à dieta pobre em betacaroteno, fumo, dieta rica em açúcar, pode levar a todos os tipos de envelhecimento”, afirma a dermatologista Tatiana Gabbi.
E mesmo as pessoas com pele morena ou negra devem se proteger. "A melanina é nosso filtro natural. Mas isso não isenta pessoas negras de não se protegerem, porque existe o câncer de pele em negros também. Então, orientamos que seja usado filtro solar, sempre fator 30 ou maior”, explica Fabiana.
Se você ainda quer ficar com "a cor do Verão”, mas com saúde, pode estender a esteira na areia, mas sempre com o filtro e com paciência. "Se expor gradativamente, com protetor de, no mínimo, fator de proteção 30, é a melhor opção. Não existe sol bom. A gente precisa se expor com consciência”, conclui.
Fonte: Correio