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Além da quimioterapia: conhecer DNA do tumor aumenta chances de cura do câncer

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08/04/2019

 

Imagine como seria o mundo se só existisse um único tamanho de sapato, do mesmo tipo. Um calçado que fosse igual para todo mundo e que, digamos, número 39. Caberia em algumas mulheres, alguns homens - talvez, até mesmo em crianças. Mas certamente o tal sapato não serviria para a maioria das pessoas. 

Se essa parece uma analogia sem sentido, pode ser ainda mais assustador imaginar que ela foi feita justamente para demonstrar como funciona o tratamento da maioria das pessoas que têm qualquer tipo câncer no Brasil e no mundo: é igual, seja lá para quem for, com quimioterapia.

“É muito claro que, hoje, perto de 2020, não cabe mais um sapato para todos. Na oncologia, isso é um paradigma”, anunciou o oncologista Gilberto Castro Júnior, médico do Hospital Sírio Libanês e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). 

Só para dar uma ideia, estudos revelam que 70% dos pacientes com câncer não respondem à quimioterapia. Ou seja: sete em cada dez pessoas com a doença estão recebendo um tratamento inadequado. E o pior é que elas estão, provavelmente, caminhando para perder a luta contra seus respectivos tumores.  

Nesta segunda-feira (8) é o Dia Mundial de Luta Contra o Câncer. E, para quem vive a doença, uma boa notícia: a oncologia de precisão. Trata-se de uma nova proposta de tratamento, que leva em conta as características próprias de cada paciente - o que inclui desde os genes até o meio ambiente e o estilo de vida. Assim, cada pessoa recebe o tratamento específico e que funciona para ela. A modalidade já existe em Salvador.

“São as características do tumor que vão dizer se o paciente vai responder pior ou melhor ao tratamento. Nós somos diferentes. Temos que encarar os casos separadamente. Cada tumor, em cada órgão, em cada indivíduo, como cânceres diferentes”, explica o oncologista. 

Embora existam iniciativas de personalização do tratamento desde a década de 1970, foi só dos anos 90 para cá que as pesquisas e as opções de tratamento individualizadas começaram a ganhar força. Hoje, há diagnósticos e protocolos específicos para o câncer de mama, pulmão e até a leucemia. O tratamento individualizado consegue, em média, com que 60% dos pacientes respondam bem ao tratamento escolhido. 

Aos poucos, novas alternativas estão surgindo. No fim do ano passado, a FDA, agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, aprovou, no país, o uso da larotrectinib, um remédio que pode ser consumido oralmente para o tratamento de câncer provocado pela fusão de dois genes - uma associação com a chamada quinase do receptor de tropomiosina (TRK). No Brasil, a droga já foi submetida à aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, mas não há previsão de quando será vendida e de qual será o seu custo. 

As pesquisas e os principais resultados da oncologia de precisão com a larotrectinib foram apresentados no Workshop Latino-americano sobre Oncologia de Precisão, em Miami, organizado pela divisão para América Latina da Bayer Pharmaceuticals.

Vários tipos
A tal quinase do receptor de tropomiosina tem nome difícil, mas é natural. O gene receptor da tirosina neurotrófica quinase (NTRK) é algo que todo mundo tem. O problema ocorre quando ele se funde a outros genes e produz uma proteína de fusão TRK que pode levar ao aparecimento de tumores em boa parte dos órgãos do corpo. 

Há cânceres provocados por essa fusão que atacam pulmões, tireóide, cólon, cérebro, pâncreas, glândula salivar, sarcoma. Pode acontecer em qualquer lugar e em pessoas de qualquer idade. 

Um dos grandes desafios, portanto, é identificar se esses tumores foram causados por essa fusão. Hoje, o que normalmente acontece, é o seguinte: um patologista colhe a amostra do tumor, vê o tecido numa lâmina e diz se é maligno (câncer). Só que, na prática, uma das características da doença é o acúmulo de mutações. Dessa forma, cada uma dessas populações celulares vai alcançar mutações diferentes. 

“Como patologista, bastava dar um diagnóstico (se era câncer ou não). Hoje, eu brinco que preciso dar nome, sobrenome, CPF, endereço. Várias características do mesmo tumor que vão impactar diretamente no tratamento paciente”, afirmou a patologista cirúrgica Isabela Werneck, médica da Rede D’Or-São Luiz. 

De acordo com ela, embora o NTRK seja um gene conhecido há pelo menos três décadas, não existiam muitos estudos sobre ele. O que se sabia era que, entre tumores raros, havia alta incidência dessa fusão. 

Só que, após o estudo genoma do câncer, que sequenciou 35 mil tumores e descreveu mais de três milhões ao longo da última década, pesquisadores identificaram que, mesmo entre os tumores comuns, existe um percentual de pacientes cuja origem da doença está justamente na fusão do NTRK. 

Taxa de sucesso
O que companhias como a Bayer e instituições acadêmicas têm feito são os chamados ‘basket trials’, uma metodologia de pesquisa que testa os efeitos de uma determinada droga em diferentes tumores. Segundo a vice-presidente global de Assuntos Médicos para a Divisão de Oncologia da Bayer, Svetlana Kobina, a taxa de resposta nos estudos nos Estados Unidos passa dos 80%. 

“Mas estamos expandindo esses estudos. Começamos os programas mundiais e temos que ver a incidência dessas fusões em diferentes regiões do mundo. Estamos fazendo isso na América Latina. Temos o compromisso de ter uma solução para um número cada vez maior através dessas inovações, através da ciência e de novas terapias de câncer para os pacientes”. 

De fato, as pesquisas em oncologia de precisão são a principal tendência na área. O vice-presidente sênior da Divisão de Fármacos da Bayer na América Latina, Eduardo Magallanes, explicou que essa é uma das principais plataformas de pesquisa da empresa hoje.

"A mesma patologia pode ter diferentes evoluções da progressão da doença. Por isso, esse tipo de tratamento antecipa a reação e a progressão para ter maiores alternativas”. 

Segundo a vice-presidente de Assuntos Médicos da Bayer na América Latina, Luz Cubillos, no Brasil a tecnologia para identificar esses marcadores genéticos já está desenvolvida. “Vimos que está comparável à tecnologia nos Estados Unidos. Em outros países, o trabalho é garantir que, no momento em que o produto estiver disponível, os centros de referência e diagnóstico já estejam treinados”, reforçou. 

Alto custo
Não adianta encarecer o tratamento ao pesquisar 600 genes em sequência, se a droga não estiver disponível no país. O preço dos medicamentos é alto - e ele, normalmente, deve ser utilizado continuamente. A prospecção da própria larotrectinib, por exemplo, é de que os pacientes a usem pelo resto da vida. No fim, o peso desse tratamento é muito grande no orçamento público. 

Em dezembro, o CORREIO mostrou a história do adolescente Alexsandro Gonçalves, 13 anos. Ele foi o primeiro paciente infantojuvenil da Bahia a tratar leucemia sem a quimioterapia tradicional - fez o tratamento com ácido arsênico para a leucemia promielocítica aguda, um dos tipos mais raros da doença. 

Só que o tratamento com o arsênico era muito mais caro que a quimioterapia. O Sistema Único de Saúde (SUS) pagava, em média, R$ 1,7 mil ao hospital pelo tratamento tradicional, enquanto o ácido custa cerca de R$ 10 mil por mês. Para conseguir finalizar o tratamento do adolescente, o Martagão Gesteira contou com doações e ainda arcou diretamente com parte do pagamento.

“Como é que eu vou fazer caber esse orçamento que não é barato numa restrição orçamentária que já existe? O câncer do colo do útero, que é um problema gravíssimo no Brasil, tratado de forma efetiva com radioterapia, por exemplo, tem um preço que não é tão elevado. Como vou deixar de tratar essa mulher - que não vou deixar de tratar, porque ela vai ficar curada - e vou gastar um orçamento que é 10, 100 vezes maior que esse para tratar uma doença metastástica, uma doença rara? A gente precisa estudar maneiras de fazer caber isso”, reflete o oncologista Gilberto Castro Júnior. 

A curto prazo, há saídas. Alguns diagnósticos já são aprovados pela Anvisa e os planos de saúde são obrigados a cobrir. Da mesma forma, como existem diversos estudos clínicos em andamento no Brasil - em diferentes áreas - é possível indicar que os pacientes diagnosticados entrem nos programas de pesquisa. 

“E a gente pode continuar essa discussão com as autoridades de saúde para ver como a gente pode avançar esses desafios com a oncologia de precisão”, completa. 

O Congresso Nacional tem debatido a inserção da oncologia de precisão no SUS. Em novembro, inclusive, uma audiência pública no Senado Federal contou com a participação de médicos, pacientes e entidades da sociedade civil que defendiam a adoção desse tipo de tratamento na saúde pública. A audiência foi promovida pela Comissão de Assuntos Sociais no Senado. 

Procurada pelo CORREIO, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) confirmou que ainda não existe medicina personalizada no SUS. 

Droga também trata pacientes com metástase
A larotrectinib é uma das alternativas, também, para pacientes com metástase. É o caso do advogado Keith Taggart, 62, que há dois anos ouviu de sua oncologista que tinha apenas três semanas de vida. Morador do estado de Oklahoma, há quatro anos Keith encontrou um caroço pequeno em sua bochecha. 

O primeiro médico que encontrou disse deveriam remover a ‘bolinha’ por motivos estéticos. Dez dias depois, veio o diagnóstico: era câncer. “Era uma bolinha em minha bochecha, então marcaram a cirurgia e foi algo de pouco impacto. Era uma cirurgia pequena, oral. Não ficamos preocupados”, contou o advogado, durante o Workshop Latino-americano sobre Oncologia de Precisão, organizado pela divisão para América Latina da Bayer Pharmaceuticals. Em seguida, vieram sete semanas de radiação na face. 

O problema é que, após a radiação, vieram mais caroços. Da mesma forma, vieram seguidas cirurgias e radiações, mas os caroços continuavam a crescer. Assim, Keith enviou seu histórico médico a um hospital em Houston, no Texas. Lá, passou por uma cirurgia mais invasiva e, novamente, por radiação.

“Quando cheguei para a consulta de seguimento, tinham mais tumores. Eles estavam descendo pelo meu pescoço. Foi cirurgia após cirurgia. Estavam cada vez tirando mais carne até que disseram: ‘esse câncer é tão agressivo que vamos fazer um scan de seu corpo todo”, lembrou. 

Foi aí que perceberam que o câncer já estava em metástase, numa velocidade em que as cirurgias não conseguiriam acompanhar. Tinha chegado a órgãos como pulmão, fígado e rins.

Nos pulmões, por exemplo, o tumor aumentou de tamanho em 50%, em cinco dias. 

“Comecei a fazer quimioterapia e a doutora me disse que eu tinha três, quatro semanas de vida, no máximo. Foi uma surpresa total”, contou.

O advogado lembrou que estava recebendo emails sobre estudos clínicos e que tinha recebido um sobre um novo fármaco - era justamente a larotrectinib. 

Entrou em contato com os pesquisadores e, em menos de três horas, foi chamado. Passou uma semana no Arizona fazendo testes para saber se seria aceito. “Eu deveria começar a quimioterapia tradicional numa sexta-feira. Na quinta, me ligaram falando que eu tinha sido aceito para o estudo”. 

Em poucos dias de uso de medicação oral, um exame revelou que praticamente todos os tumores tinham ido embora. Nos pulmões, o câncer tinha sido reduzido em 65%.

“Em janeiro, fez dois anos que estou no teste clínico e, para mim, salvou minha vida. Estava certo que ia morrer em três ou quatro semanas”. 

Ao longo desse período, por quatro dias, precisou ficar sem tomar o medicamento devido a uma cirurgia para correção de problemas de cirurgias anteriores. “Comecei a ficar mal novamente. Cheguei a não conseguir andar. Tão logo tomei as pílulas de novo, em 30 minutos, já estava bem”. 

Segundo o advogado, o tratamento também não tem efeitos colaterais. “Antes, eu estava vomitando, me sentia mal o tempo inteiro. Tudo aquilo foi embora em algumas semanas. Comecei a me sentir bem, a ter energia”. 

Fonte: Correio

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