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Descoberto um possível alvo terapêutico contra o câncer mais mortal

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09/04/2018

 

Não existe atualmente praticamente nenhuma alternativa terapêutica para lidar com um diagnóstico de câncer de pâncreas. O tumor é fugidio, sabe camuflar os sintomas até que a doença alcance um estado muito avançado e, além disso, cria ao seu redor uma espécie de muro que impede a ação do sistema imunológico e dos medicamentos quimioterápicos. Entretanto, pesquisadores do Instituto Hospital do Mar de Pesquisas Médicas (IMIM, na sigla em catalão), de Barcelona, encontraram agora um facho de luz no fim do túnel, um possível fio da meada que permita melhorar o prognóstico e a evolução desse tipo de tumor. Os cientistas provaram com sucesso em ratos que, ao inibir a proteína Galectina-1 (Gal1), relacionada com a proliferação das células tumorais, reduz-se a agressividade e se freia o crescimento desse câncer. Esses estudos pré-clínicos ainda precisam ser reproduzidos em um ensaio com pacientes humanos, mas em princípio essa descoberta abre caminho para um possível alvo terapêutico que melhore a sobrevivência.

O tipo de câncer de pâncreas mais comum, o adenocarcinoma ductal pancreático (85% dos casos detectados), tem um dos piores prognósticos: a sobrevivência após cinco anos mal chega a 5%. "É muito maligno. Detecta-se em fases muito avançadas, quando já não se pode fazer cirurgia para extirpar o tumor. A sintomatologia inespecífica e a localização do órgão dificultam o diagnóstico precoce. Não há métodos de varredura e, além disso, respondem muito mal aos tratamentos, porque tem uma barreira física que impede os fármacos de chegarem ao tumor”, enumera a médica Pilar Navarro, pesquisadora do IMIM e autora do estudo.

A "barreira física” a que Navarro se refere se chama estroma e funciona como uma espécie de muralha que evita que as células tumorais se exponham aos fármacos e ao próprio sistema imunológico. Os artífices desse muro são os fibroblastos, um tipo de células que secreta proteínas e outras substâncias que favorecem a proliferação do câncer. Nesse ecossistema tão peculiar, os pesquisadores voltaram seu foco para uma dessas proteínas que geram os fibroblastos: a Galectina-1, moléculas que participam ativamente na tarefa de despistar o sistema imunológico. "Já tínhamos observado que no pâncreas saudável essa proteína não se expressa, e que no câncer está expressa de forma elevada, então sabíamos que tinha a ver com o crescimento do tumor: essa proteína promove a vascularização do tumor [novos vasos sanguíneos que permitem ao câncer se alimentar e disseminar] e que as metástases cresçam mais”, observa Navarro.

Sobre essas premissas, os pesquisadores se propuseram eliminar essa proteína para ver como o tumor atuava. "No pâncreas saudável já não há expressão dessa proteína na idade adulta. Suas funções são as de bloquear reações autoimunes, então se você a bloqueia não tem por que acontecer nada, porque sua função também é feita por outras proteínas”, explica a médica. Assim, os cientistas testaram a resposta das células tumorais de várias maneiras: primeiro, em ratos tratados geneticamente para que tivessem a Gal-1 inibida; depois com células de pacientes com câncer in vitro no laboratório e in vivo em ratos; e, finalmente, através de estudos moleculares genéticos em grande escala. O resultado foi claro: "Validamos que inibir a proteína Gal-1 tem um efeito multidireccional porque desacelera o crescimento do tumor, freia as metástases e recupera a resposta imunológica”, resume a pesquisadora, que publicou a descoberta na revista científica PNAS.

Suas conclusões estabelecem as bases do que poderia ser uma via de tratamento no futuro. Os pesquisadores se mostram otimistas, mas também cautelosos: trata-se de estudos pré-clínicos, e ainda falta um longo caminho até que isto se traduza de forma efetiva em pacientes reais. As pesquisas continuam seu curso, e o próximo passo é inibir a proteína farmacologicamente – pois nesse estudo foi bloqueada geneticamente. "Já geramos anticorpos para a Gal1 e também há outros inibidores químicos que poderiam funcionar. Primeiro vamos tratar o rato com esses anticorpos, e depois, se tudo correr bem, vamos transferir isso para ensaios clínicos. Sendo otimistas, serão necessários 10 anos para vê-lo em pacientes”, diz a pesquisadora do IMIM.

A pesquisa contou com a colaboração do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas da Espanha (CNIO) e de grupos de pesquisa dos Estados Unidos e Argentina. Foi financiada também através de bolsas da Associação Espanhola da Pancreatologia e da Associação Câncer de Pâncreas.

Fonte: El País

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