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06/11/2018
O câncer é uma doença de mutações. As células dos tumores estão repletas de mutações genéticas que não observamos nas células saudáveis. Os cientistas acreditam que são necessárias entre cinco e dez mutações importantes para que uma célula saudável se torne cancerosa.
Algumas dessas mutações têm causas ambientais, como os raios ultravioleta e a fumaça do cigarro.
Outras decorrem de moléculas nocivas produzidas pelas próprias células. Agora, os pesquisadores estão analisando mais de perto essas mutações, para compreender como surgem nas células saudáveis, e o que faz com que essas células desenvolvam o câncer.
A pesquisa produziu algumas surpresas. Boa parte das células das pessoas saudáveis carrega muito mais mutações do que o esperado, incluindo mutações que acreditamos ser importantes fatores que contribuem para o desenvolvimento do câncer. Elas fazem uma célula crescer mais rápido que outras, o que nos leva a perguntar por que o câncer não é mais comum.
“Trata-se de uma parte bastante fundamental da biologia da qual nem tínhamos consciência", disse o geneticista Inigo Martincorena, do Instituto Wellcome Sanger, em Cambridge, Inglaterra.
Essas mutações ocultas passaram tanto tempo sem serem detectadas porque as ferramentas para examinar o DNA eram demasiadamente rudimentares.
Mas, com a sofisticação do sequenciamento de DNA, Martincorena e outros desenvolveram maneiras de detectar mutações muito raras, e se indagaram se estas seriam encontradas escondidas em células saudáveis.
Começaram com a pele; essas células são bombardeadas diariamente pelos raios ultravioleta do sol, que desencadeiam mutações.
Num estudo de 2015, os cientistas coletaram amostras de pele de cirurgias cosméticas nas pálpebras. Fizeram as células epiteliais emergirem do tecido inferior.
A equipe "pescou" o DNA das células epiteliais saudáveis e sequenciou 74 genes que sabemos que influenciam o desenvolvimento do câncer. Mutações que são comuns em genes do câncer foram especialmente comuns também nessas células cutâneas saudáveis. Cerca de uma em cada quatro células epiteliais trazia uma mutação num gene ligado ao câncer, acelerando o crescimento da célula.
Existia a possibilidade de a pele ter um funcionamento peculiar. Quem sabe, do lado de dentro do corpo, protegidas do ataque dos raios ultravioleta, haveria células saudáveis que não traziam essas mutações em genes fundamentais.
Os pesquisadores estudaram então os mesmos 74 genes associados ao câncer no tecido do esôfago. Novas mutações apareciam mais rapidamente no esôfago do que na pele. Mas, depois que essas mutações emergiam, elas faziam com que as células do esôfago se multiplicassem mais rapidamente do que o normal.
Com o tempo, as células de crescimento desordenado se espalhavam pelo esôfago, formando colônias de células mutantes, conhecidas como clones. Embora esses clones não sejam um câncer, eles apresentam uma das características principais do câncer: o rápido crescimento.
“Esses clones mutantes colonizam mais da metade do nosso esôfago quando chegamos à meia-idade", disse Martincorena. “Para mim, foi uma revelação.”
As mutações parecem surgir como decorrência natural do envelhecimento. O aumento no seu número pode ser apenas parte do processo de ficar mais velho.
O biólogo Scott Kennedy, especialista em câncer da Universidade de Washington, disse que o estudo levantava também perguntas a respeito das iniciativas para detectar o câncer em seus estágios mais iniciais, quando as células de câncer ainda são raras. “O fato de alguém apresentar mutações associadas ao câncer não significa uma situação maligna", disse.
Levando em consideração a abundância de mutações ligadas ao câncer em pessoas saudáveis, por que a doença não é mais comum? Um corpo saudável pode ser como um ecossistema: podem surgir clones com diferentes mutações, disputando espaço e recursos, e mantendo sob controle as populações uns dos outros, disse Martincorena.
Se isso for verdade, talvez o combate ao câncer seja, um dia, uma questão de ajudar clones não prejudiciais a vencer a disputa contra os clones nocivos.
“Isso abre novas avenidas de pesquisa", disse o Dr. Martincorena. “Acredito que o conhecimento é sempre uma arma.”
Fonte: Estadão
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