O que jamais dizer a uma pessoa com câncer
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14/12/16
Frases como não se preocupe, vai dar tudo certo e outras comumente usadas por quem interage com o doente diagnosticado com câncer não deveriam ser ditas
Mesmo que a intenção seja ajudar, há coisas que não devem ser ditas para quem sofre de câncer. Frases como: não se preocupe, vai dar tudo certo , quando terminar a quimioterapia, vai estar bem melhor, eu tenho um conhecido que teve um câncer muito parecido, e viveu mais de 80 anos ou não se preocupe, tudo vai estar bem, frequentemente usadas por quem interage com pacientes de câncer devem ser evitadas. Nesse caso, ações e ofertas de ajuda podem valer mais que palavras de esperança, de acordo com a BBC Brasil.
Segundo Stan Goldberg, professor de comunicação da Universidade Estadual de San Francisco, nos Estados Unidos, ainda que as intenções sejam as melhores possíveis, muitas vezes o que é dito é exatamente o que o paciente não quer ? ou não precisa ? ouvir.
O paciente não quer que você o anime. Não quer que lhe diga que tudo vai ficar melhor quando, na realidade, as pessoas não têm a menor ideia de qual é o alcance ou o diagnóstico do câncer, disse Goldberg, à BBC.
O professor enfrenta uma forma agressiva de câncer de próstata e se define como um sobrevivente do câncer e um amante da flauta de bambu japonesa. Ele também é autor do livro Loving, Supporting, and Caring for the Cancer Patient (Amando, apoiando e cuidando de um paciente com câncer) .
Ainda para ele, falar do câncer de outras pessoas não ajuda em nada o paciente porque isso não te diz nada já que não sabem exatamente que tipo de câncer têm. Conselhos que começam com :se eu estivesse em seu lugar, também não costumam funcionar já que uma pessoa não sabe pelo que a outra está passando.
As pessoas com câncer vivem em um mundo diferente de uma pessoa sadia. Percebem as coisas de forma diferente, afirma. Por esta razão, é difícil saber o que sente e pensa um paciente. Em vez de julgar ou de tentar animar o outro, é preciso simplesmente aceitar.
Ações valem mais que palavras
Embora os pacientes entendam que as pessoas querem demonstrar compaixão e apreço com as palavras, Goldberg afirma que focar em palavras e não oferecer ajuda para coisas práticas no dia a dia é um erro comum. É preciso pensar no que a pessoa enferma precisa e essa deve ser a chave da interação, explica o especialista.
Ao oferecer ajuda, também é importante ser prático e específico. Goldberg sugere, por exemplo, oferecer para ir com a pessoa ou fazer as compras para ela, para que não fique ainda mais cansada. Perguntar à pessoa o que ela quer, pode não ser uma boa ideia. Isso é muito mais significativo que qualquer coisa que você possa falar.
E quando lhe descrevem um procedimento médico, ficar calado e ouvir é uma boa alternativa. Responder que já leu algo na internet sobre o tema não acrescenta muito. O importante, esclarece Goldberg, é deixar que o paciente conduza e dite os rumos da conversa.
Experiência própria
Embora muitas das recomendações de Goldberg estejam fundamentadas no senso comum, ele aprendeu na prática a melhor forma de agir com pacientes de câncer. Tudo começou há uns 20 anos, quando uma amiga me chamou e me disse que tinha um câncer de mama (estágio 4). Não sabia o que dizer. Reagi como todo mundo, dizendo: sinto muito. Mas logo, percebeu
que isso era o mais sem graça que se podia dizer diante da situação. Expressava minha solidariedade, mas não ajudava em nada.
O diálogo com a amiga o fez refletir sobre o tema. Anos mais tarde, quando ele foi diagnosticado com câncer, recebeu dos amigos a mesma resposta que havia dito à amiga no passado. Sua experiência como paciente e como voluntário em hospitais permitiu que Goldberg aprendesse como se relacionar de uma maneira mais positiva com quem está doente.
A chave é julgar menos, aceitar mais. Falar menos e escutar. Se faz isso, você terá menos problemas em saber o que é ofensivo e o que não é, finalizou.
Fonte: Veja