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13/04/2020
O maquiador Raffael Souza, de 28 anos, descobriu há poucas semanas uma leucemia mieloide aguda. Internado desde então, ele espera a alta após um ciclo de sete dias corridos de quimioterapia. Dependendo da resposta do seu organismo ao longo do tratamento, Raffael precisará passar por uma cirurgia de transplante de medula.
Já a quadrista de pães Maria Fiol trata desde junho de 2019 um câncer de mama. Após 4 sessões de quimioterapia vermelha e 12 da branca, a cirurgia seria realizada entre os dias 23 e 30 de março. Porém, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) orientou que as consultas, exames ou cirurgias que não se enquadrem em casos de urgência e emergência sejam adiadas.
A situação preocupa tanto Raffael quanto Maria, que temem que seus tratamentos sejam afetados pela pandemia do novo coronavírus. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), indicam que 9 em cada 10 pacientes oncológicos vão precisar passar por alguma cirurgia.
Segundo o cirurgião oncológico e presidente da SBCO, Alexandre Ferreira Oliveira, o cancelamento só deve acontecer caso a intervenção cirúrgica não seja estritamente necessária naquele momento e não coloque em risco a vida do paciente.
“Cada caso é um caso e deve ser discutido individualmente. Mas, em geral, se o caso não se enquadra em tumor muito agressivo ou muito inicial, pode ser adiado. Mas se não tiver jeito, vai ser operado. O câncer já é uma doença instalada, a covid-19 não ”
Enquanto a cirurgia não é remarcada, Maria deve continuar as sessões de quimioterapia para que o tumor não volte e também não se espalhe. “Não sei por quanto tempo continuarei fazendo, mas será até a situação das cirurgias se normalizarem. Quanto ao coronavírus eu tomo os cuidados normais, meu esposo que sai de casa.”
Raffael também se preocupa. “Acaba dando um certo medo, porque a minha imunidade está baixa e não ficarei mais internado. Vou voltar para casa e só vir para o hospital para cada ciclo. Tenho que tomar cuidado redobrado com tudo. No hospital não estou recebendo visitas nem dos meus pais, porque eles pertencem ao grupo de risco.”
Covid free
De acordo com o oncologista e presidente da SBCO, Alexandre Ferreira, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica propôs ao Ministério da Saúde a adoção do “Covid free”, que seriam hospitais livres do novo coronavírus. Isso possibilitaria que as cirurgias relacionadas a patologias graves possam acontecer normalmente.
“O paciente que vai ser submetido a cirurgia passará por teste rápido 48 horas antes do procedimento e a equipe também, continuamente. Essas equipes ficarão um tempo maior no hospital, até isoladas em casa. Assim, corre-se um risco muito menor do se expor ao vírus.”
Por enquanto, a medida adotada pelos hospitais gerais, que não são exclusivos ao tratamento oncológico, é a criação de paredes ou isolamento de andares para evitar o contato dos pacientes da covid-19 com outras enfermidades.
É assim no Hospital Santa Paula, da zona sul de São Paulo, por exemplo. O coordenador médico do Instituto de Oncologia, Tiago Kenji Takahashi, explicou que lá a triagem está sendo feita ainda no térreo para evitar contato de casos suspeitos com os pacientes.
Além disso, existe uma UTI exclusiva aos pacientes da oncologia e o Instituto busca ao máximo não ter intercâmbio da equipe médica entre as duas alas. “Não dá para dizer que não tem, mas fazemos o possível para que o número seja o mais próximo de zero possível.”
Fonte: Jovem Pan
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