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Tratar doente com câncer como "coitadinho" só prejudica o paciente

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30/08/16

Descobrir um câncer pode ter um efeito devastador na vida dos pacientes. Embora alguns enfrentem a doença desde o princípio com otimismo ? o que pode ajudar no tratamento, inclusive ?, a maioria se revolta, se deprime ou até mesmo se nega a acreditar no que ouviu, como se ignorar o problema fosse ajudar na cura ou na diminuição do sofrimento.

Para o psiquiatra e diretor secretário da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), Claudio Martins, além do estigma da morte, embora haja inúmeros casos de cura, o paciente teme pelo futuro.

? [O câncer] ainda traz muito medo de mutilações, tratamentos dolorosos e perdas em geral.

Realmente. O câncer pode desencadear problemas psíquicos ao paciente, como ansiedade, depressão, medo, insegurança, mudanças de humor, entre outros. Além disso, dependendo do tipo de tumor, o paciente pode ter de enfrentar as consequências físicas do câncer, como as possíveis mutilações, dores e os efeitos colaterais do tratamento.

Segundo Martins, mesmo se todas estas questões forem superadas, ainda há o fator sociedade que pode, não só abalar a saúde mental do paciente, mas também a estrutura da família. Muitas vezes, a pessoa pode ter os papéis que desenvolve dentro de casa alterados, como os provedores de famílias, a perda do controle das situações com os filhos e a autonomia.

? No trabalho, a pessoa pode ser preterida para algumas tarefas. Não por não conseguir realizar determinada função, mas porque os colegas acreditam que ele é um coitadinho, que está sofrendo e que não vai conseguir fazer o trabalho. Isso acaba isolando ainda mais o paciente.

Os médicos também sentem dificuldade em comunicar o diagnóstico e, em alguns casos, mesmo com poucas chances de sobrevida, os pacientes chegam a se curar, principalmente se o tumor for descoberto no início. Por isso, segundo Martins, é extremamente necessário que o paciente e os familiares procurem ajuda psicológica para passar por este momento.

Tratamento difícil

Os pacientes do SUS são tratados com quimioterapia

Para Marcio Debiasi, oncologista do Hospital do Câncer Mãe de Deus (RS) e diretor da LACOG (Latin American Cooperative Oncology Group), uma das principais dificuldades em se combater a doença é justamente porque o organismo que originou aquele tumor é o mesmo que o do paciente.

? Se for pouca medicação, não surte efeito. Se for demais, intoxica. É a chamada "janela estreita". Por isso, é difícil matar o câncer sem matar a si mesmo.

Debiasi explica que, antes da quimioterapia, um paciente com câncer de mama, por exemplo, era submetido à uma cirurgia para retirada do seio e de parte da axila. Os médicos e o paciente torciam para que não houvesse mais células cancerígenas no organismo. Se houvesse, o câncer voltaria. Com o tratamento, aumentaram as chances de sobrevida dos pacientes ou até a cura dos tumores.

Atualmente, o SUS (Sistema Único de Saúde) trata o câncer somente com quimioterapia. O tratamento foi revolucionário na década de 1970, pois possibilitou a sobrevida ou até a cura de milhões de pessoas desde então. Porém, alternativas mais inteligentes e sensíveis foram desenvolvidos nos últimos anos, mas estão disponíveis apenas na rede privada.

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Na década de 1990, foi o "boom" das terapias alvo. Porém, como o tumor sofre diversas mutações, acaba se tornado um câncer com propriedades diferentes.

? [A terapia alvo] foi um grande avanço, mas, às vezes, errava.

Em 2010, as pessoas começaram a serem tratadas como imunoterapia, que é o combate ao câncer estimulando o sistema imunológico do paciente. O problema é que este tratamento custa caro e, por isso, não está ao alcance de todos os pacientes.

Mortes por câncer e burocracia

Durante o Workshop Oncologia para Jornalistas, dentro do Fórum Câncer de Mama, realizado entre os dias 18 e 21 de agosto em Gramado (RS), diversos médicos bateram na mesma tecla de que a burocracia atrapalha todo o processo de incorporação de novas drogas ao tratamento oferecido pelo SUS, que atende 75% dos pacientes com câncer no Brasil. O detalhe é que 60% do que é gasto com os tratamentos são da rede particular (25% dos pacientes).

E a previsão da doença é alarmante para o futuro próximo. O número de casos de câncer aumentou nas últimas décadas e deve dobrar em 20, 30 anos. De acordo com Carlos Barrios, diretor executivo da LACOG (Latin American Oncology Group), os principais fatores para a expansão da doença é o aumento da expectativa de vida e o crescimento da população.

? O câncer será a principal causa de morte no mundo, à frente das doenças cardiovasculares. E já é a principal causa de morte em adultos nos EUA.

Para Leandro Brust, oncologista e consultor em oncologia para operadoras de saúde, nos últimos anos, o número de doentes da rede pública do Brasil subiu de 292 mil para 393 mil.

? A expectativa do INCA [Instituto Nacional de Câncer] prevê que 2.008 mulheres serão diagnosticadas com câncer mamário metástico HER2-positivo em 2016. Se forem tratadas apenas com quimioterapia, 808 estarão vivas nos próximos dois anos. Se receberem a combinação de quimioterapia + trastuzumabe [medicamento para tratamento de câncer de mama], o número de sobreviventes seria 1408. Ou seja, se salvariam 768 mulheres.

Uma das soluções para salvar mais vidas é o aumento da pesquisa clínica para novos medicamentos

Entre 2005 e 2012, estima-se que aproximadamente 5.000 pacientes morreram pela falta de outro medicamento associado ao tratamento tradicional no Brasil, disse o médico. Os tratamentos de outros tipos de câncer, como pulmão, próstata, rim, pele (melanona) e cólon/reto, também podem ser mais sucedidos se complementarem outras drogas.

A demora também contribui para o problema. Segundo Stephani, no Brasil, o tempo de aprovação para um novo medicamento é de cerca de dez meses. Enquanto em outros países, a espera é de apenas três meses.

Engajamento nas pesquisas

Uma das soluções apontadas pelos especialistas para diminuir o número de mortes de pacientes com câncer seria o aumento das pesquisas clínicas. Segundo o médico Leandro Brust, dos US$ 40 bilhões (R$ 129 milhões) investidos anualmente no mundo em pesquisa clínica, o Brasil recebe pouco mais de US$ 139 milhões (R$ 448 milhões) (0,34%). Das 29.318 pesquisas em curso no mundo, apenas 461 (1,6%) tem alguma fase sendo desenvolvida no País.

Já os protocolos de pesquisa mundiais, quando os pacientes recebem tratamento tradicional mais medicação em teste, acabam tendo poucos pacientes brasileiros porque, devido à burocracia, os médicos acabam perdendo o prazo das inscrições.

Segundo Debiasi, mesmo se o paciente fizer uso do "medicamento placebo", ele não ficará sem tratamento.

? Por lei, o paciente deve receber pelo menos o tratamento tradicional, caso não seja o que utilizará a droga em teste. Nem o paciente nem o médico sabem qual é a fonte do tratamento para não atrapalhar os estudos. O placebo, na verdade, é o remédio tradicional.

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Para médico, sociedade precisa se engajar para cobrar melhores tratamentos

De acordo com Stephani, estes protocolos são muito desejados por pacientes, pois muitos têm a possibilidade de receber os melhores medicamentos e aumentam suas esperanças de cura.

? Um paciente com câncer de pulmão avançado, com chance de cura 0, por exemplo, pode ter o tumor reduzido.

Durante os testes, os modelos não aprovados entram na conta do valor final do medicamento. A única forma de baratear um medicamento é com a abertura de concorrência, explica Stephani.

Brust complementa a explicação exemplificando o aumento nas chances de cura dos pacientes.

? Um câncer de pulmão avançado, com expectativa de vida de seis meses sem tratamento, pode dar de 12 a 15 meses de sobrevida ao paciente. Somente com o tratamento do SUS, o tempo seria de oito meses.

Para Brust, é necessário que a sociedade se engaje para cobrar mais pesquisas e pressionar a implementação de novas drogas no SUS.

Em nota, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informou que ?a partir do ano de 2015 a gerência geral de medicamentos organizou seus processos de trabalho e desde então consegue avaliar, além dos processos priorizados, uma maior quantidade de processos que aguardam na fila ?ordinária?, portanto, passou a analisar petições que aguardavam na fila?.

Ainda de acordo com a agência, a publicações das decisões ?passou a pressionar a média do tempo necessário para a conclusão de uma análise, isto é, o tempo contado desde a data de peticionamento do processo na Anvisa até a data da decisão publicada..., acarretando piora desse tempo médio?.


Fonte:R7



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